sábado, setembro 29, 2012

LEMBRANÇA ALADA


Em alguma vida fui ave.
Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.
E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.
Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.
Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.

Guardo a pluma
Que resta dentro do peito
Como um homem guarda o seu nome
No travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida


Mia Couto

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