domingo, agosto 31, 2014

Viagens na nossa Terra

Que as viagens mudam a nossa vida... é um lugar tão comum que nos cansa, pela vulgaridade! No entanto, é uma realidade a que nenhum pode ser indiferente. Quão diferentes eram as coisas antes de determinada viagem? E não falo de viagens no espaço, nem no tempo, falo de viagens interiores (é certo que a mudança de espaço e tempo favorece a sua cadência...). Pois bem, há alturas na vida em que determinadas viagens são precisas, mais do que necessárias, são vitalmente imprescindíveis.

O Verão para mim terminou com chave de ouro, com uma (ou várias) dessas viagens interiores. Necessárias. Precisas. Imprescindíveis, e mais do que isso, profundamente desejadas!

Viagens nas quais as conversas fluem, as máscaras caem, e as pessoas se entregam a si mesmas e aos desconhecidos, como se amanhã todos fossemos amanhecer num território longínquo... A verdade é que depois de tudo isso, todos amanhecemos em lugares diferentes, como se a distâncias de dois dias durasse uma vida inteira. De repente, os circuitos cambiam, a rota das necessidades básicas inflectem, e recomeçamos, com a alegria eterna da renovação. Qual balde de água fria que nos atiram em cima e parece limpar o que outrora solía. E que necessidade básica constitui esse câmbio. Para todos nós!

Haverá maior encanto na vida, que a eterna renovação, completada com o regresso a casa?

Se o há, desconheço e quero constantemente viver sem ele! Cá estamos de coração aberto à eterna novidade do mundo!

Há uns anos atrás, uma amiga disse-me uma frase bastante interessante:
- Há pessoas a quem a vida lhes passa ao lado, a mim a vida passa-me por cima!

Ainda bem, que a vida nos passe sempre por cima, com a marca indelével dessa maravilhosa passagem e porque não dizê-lo, a absolutamente fascinante busca de assentar caminho no desconhecido. Atractivos são os caminhos desconhecidos, tal como atractivo é o regresso a casa, às rotas confortáveis do sempre, a essas rotas tão afectivamente nossas, que parece ser que nunca delas saímos! O poder das raízes fortes, das âncoras estendidas sobre os mares navegados e longamente partilhados.

Há vezes em que mudamos mares por rios e rios por cascatas de águas bravas. Que temerosas e atractivas podem ser as águas bravas... a mística mistura de medo e fatal atracção pelo abismo! Que o abismo  e a vertigem, têm um poder único. E que poder tem a conquista desse abismo? Incomparável, é essa indescritível sensação.

Enriquecimento? Sempre, qual premissa indiscutivelmente basilar do regresso.

O regresso é bom, como bom é o despir de tudo, em território distante!

Ler como se não houvesse amanhã e caminhar de noite sob a lua cheia, temer ursos e outros lugares do medo interior e chegar a casa, de volta à rotina. Acabou o Verão. Dele sobejam as histórias para contar e os novos lugares afectivos que cada descoberta nos traz. A vida enriquece, cresce, amplia, estende-se sobre outros lugares, outras pessoas, outras memórias e nós: os mesmos de sempre, continuamos, cada vez melhores! Que encanto tem a novidade e a descoberta. Enfim, temos que sair dessa grande ilusão, de que o tempo não pára e de que tudo se resume à real básica função das necessidades realmente humanas! Este verão foi imensamente povoado de sensações fortes, de partilhas únicas, de estreitamento de amizades novas e intensas. Quanta maravilha supõem!

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