quarta-feira, dezembro 11, 2013

That love is all there is, Is all we know of love

Quando cheguei a casa ao fim do dia, cansada de um dia inteiro a produzir para os indicadores acerca dos quais Higgs tão sabiamente falou esta semana,  liguei o rádio. Na TSF dava futebol, mudei de estação. Uma voz calma e doce falava, era a Ana Luísa Amaral. Naturalmente, apresentava o seu primeiro romance "Ara", mas o que disse era muito mais profundo e interessante, que a simples divulgação de um novo livro. Tentando não me irritar com o "jornalista", que é muito apropriado para fazer as delícias dos magotes nas festas académicas e passar os últimos gritos do pop/rock/electro entre clássicos da mesma linha, e chega. Continuei a ouvir, a reflectir e a deliciar o espírito massacrado das horas consecutivas à volta do mesmo tema. A conversa passou obviamente pela poesia, actualidade e questões intrinsecamente humanas e intemporais. Curiosamente é quarta-feira, esse dia tão especial a meio da semana, dia que costumava ser povoado por dizeres mais ou menos poéticos no Púcaros, no Porto. A propósito da conversa da dita entrevista: - Há quanto tempo não vou ao Porto, há muito… adiante. Várias frases me saltaram ao ouvido: "A filosofia ajuda os seres humanos a serem mais humanos". Dos vários ditados populares de que tanto gosto há um que é particularmente humano "nem só de pão vive o homem" e na generalidade vivemos tanto de "pão" e tão pouco da nossa dimensão humana. Já dizia o poeta brasileiro Milô Fernandes, "a vida só tem um problema, é o dia-a-dia".

Li não sei onde há algum tempo que a poesia aumentava a criatividade. Que tinha um efeito tão terapêutico no bem estar como uma hora de desporto ou outros "indicadores" considerados similares, como sejam o contacto directo com a natureza, com a terra que nos liga à terra. Só posso estar, empiricamente, de acordo com este estudo, independentemente de pensar que o tratamento estatístico de dito estudo possa estar "estatisticamente"induzido.

De facto, o ser humano precisa de coisas belas, remetendo-me de imediato para o poema do Gedeão sobre as coisas belas.

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?
Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?
Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?
Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

Termino com um frase maravilhosa, dita na supracitada conversa de rádio:

That love is all there is, Is all we know of love.

Emily Dickinson


"Ara" já esta na árvore de Natal 
e a poesia continua a bordar os meus dias 
e a salvar-me da redução biológica da condição humana.

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