segunda-feira, outubro 14, 2013

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem por inveja ou negação:
 cabeçudo dromedário fogueira de exibição
 teorema corolário poema de mão em mão
 lãzudo publicitário malabarista cabrão.

 Serei tudo o que disserem: Poeta castrado não!
 Os que entendem como eu as linhas com que me escrevo
 reconhecem o que é meu em tudo quanto lhes devo:
 ternura como já disse sempre que faço um poema;
 saudade que se partisse me alagaria de pena;
 e também uma alegria uma coragem serena
 em renegar a poesia quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu a força que tem um verso
 reconhecem o que é seu quando lhes mostro o reverso:
 Da fome já não se fala - é tão vulgar que nos cansa
- mas que dizer de uma bala num esqueleto de criança?

 Do frio não reza a história - a morte é branda e letal
- mas que dizer da memória de uma bomba de napalm?

 E o resto que pode ser o poema dia a dia?
 - Um bisturi a crescer nas coxas de uma judia;
 um filho que vai nascer parido por asfixia?!
 - Ah não me venham dizer que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem por temor ou negação:
Demagogo mau profeta falso médico ladrão
 prostituta proxeneta espoleta televisão.
 Serei tudo o que disserem: Poeta castrado não!

José Carlos Ary dos Santos



Ai, ai, ai, que saudades, 
preciso mesmo de uma noite destas!

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