ou a arte de escrever cartas.
As idas a certas livrarias, trazem-me sempre boas recordações. Se as bibliotecas são locais de silêncio e as igrejas locais de contemplação, as Livrarias, para mim, são uma sinestesia mística de emoções, sempre e quando contêm livros antigos e donos com carisma.
Passeando pelo Porto, dei de caras com a Lello, quase por acaso. Estava por perto e resolvi dar lá um salto, nunca se sabe que boas surpresas nos revelam estas catedrais dos Livros.
Neste dia corri 2 catedrais de Livros: a Lello e a outra que está em frente, nas catacumbas daquele edifício antigo que está delante, a que dão o nome de arquivo bibliográfico da UP.
Chego à Lello, o Livreiro fuma!
Olho-o com espanto, desde que passei para o lado dos não-fumadores, possuo de uma tolerância quase zero ao fumo do tabaco (como todos os ex-fumadores, penso que se trata de um mecanismo de protecção, pois sabemos que se tocarmos no cigarro, fumamos um maço de enfiada e lá se vai o nosso tão estimado "deixar de fumar")...
Adiante, o Sr. da Lello, de olho vivo, daqueles a quem não escapa nada, lá respondeu de forma quase desprezível ao meu: - Bom dia!, e segui, livraria dentro.
Subi as escadas, observei, o cheiro enebriante dos livros, as formas rectangulares das lombadas, as escadas, os brilhos, os candeeiros, o tecto, o andar de baixo, o corrimão, a organização, as secções, a fotografia e a descida.
Não vou levar nada, mas pelo sim pelo não deixa-me perguntar se ele tem dois ou 3 livros que me faltam...
A resposta do costume (de quem percebe realmente de livros, que não é de todo o meu caso): - Não tenho, isso está esgotado em todo o lado, já não encontra nada disso!
Respondi-lhe: - Pois! (e pensei com os meus botões, se fosse fácil, já os tinha e não andava à procura deles...), e ele continuou, quase rindo da minha pregunta e continuando o que estava a fazer!
Foi quando lhe disse que podia ser que ele tivesse ali escondido por baixo da mesa um exemplar daqueles. Aqui ele vergou o discurso e disse: - Não tenho, posso-lhe arranjar para a semana por 1.100 Euros uma edição especial desse livro.
Eu ri-me. Parei e disse-lhe: - Bem me parecia (afinal a pergunta não era assim tao estúpida como ele fez transparecer)
Ele saiu do seu sítio e continuou a falar: - Tenho aqui uma coisa que talvez lhe interesse!
A coisa (entenda-se Livro) interessou-me tanto que comprei 2 (nunca se sabe quando é preciso armar ao pingarelho e fazer um brilharete perante os pseudo-intelectuais e críticos literários de meia-tijela). Enquanto o cartão multibanco passava, o ar desprezível transformou-se em curiosidade: - de onde é? e tal e coiso... o sorriso iluminou-lhe a cara, começou a falar dele e a querer saber coisas de mim!
Gostava de ter ficado a conversar com ele, seguramente a conversa ia ser interessante, até podíamos ter ficado amigos, mas estava com pressa, e ainda tinha muita coisa para fazer, fica para outro dia!
ou não, Como dizia o Vinicious de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nesta vida".
Estava sozinha, tinha algumas horas de espera e viagem, o livro que tinha comprado, começou a inquietar-me a curiosidade era tanta, que me sentei a almoçar. Rapidamente, o interesse pelo conteúdo do livro começou a galopar vertiginosamente na minha vontade! Ainda bem que tenho uma hora de comboio pela frente. Comprei castanhas e dirigi-me para S. Bento.
Um dia explêndido: frio, as ruas do Porto, a minha música nos auriculares, uma sensação de bem-estar tremenda e arrebatadora e o livro à minha espera.
Comecei a ler, página após página, o meu interesse era cada vez maior, sentia-me a entrar na história, sentia-me enredada, verdadeiramente entrelaçada no que lia e esta sensação não é comum em mim.
Fui inundada por um sentimento de espectacularidade, e curiosidade daqueles insaciáveis, tinha que ler TUDO.
(... e agora vieram interromper o meu momento de escrita, tenho que ir dar mãe a esta gente, pode ser que continue a escrever este post um destes dias)
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