falar de carosséis ou sinos (as palavras
que aqui me conduziram e me obrigaram
à angústia).
O ponto mais pretérito da angústia
devia estar neste poema, que seria
para ti.
Nele, eu embrulharia muitas coisas:
calendários indóceis, facturas para pagar,
livros deixados por ler à mesa da cabeceira,
anúncios recortados de nuvens
ou jornais.
Acrescentando também os carosséis, os tais
de que falava acima, e os sinos
que todavia teimam em tocar a horas retinentes.
Tudo isto eu deveria dizer
neste poema: ternuras por pensar e muitas dívidas
impensáveis e doces.
Usaria então breve vocabulário sempre igual,
as mesmas palavras que há anos têm sido
as minhas memórias idênticas
em ponto mais pretérito de angústia.
Seria então um poema que se devia
a toda a gente, especialmente a ti,
um pequeno berlinde que eu nunca soube jogar,
porque, no tempo em que vivi, o que se usava
era canções de roda e bonecas
de tranças a fingir.
Escrito no ponto mais pretérito
da angústia,
aspirarira à linguagem mais simples
das coisas menos simples,
como facturas de vida,
contas de hospital- ou ainda um abat-jour
de impossível partilha.
Pensando bem, com um perfil assim, este poema
nem devia ser um poema, mas um grito,
ou uma voz em branco,
escrito no pretérito mais que perfeito
de tudo, a sua angústia a concordar com tempo
e modo. E os sinos reticentes
em música de fundo.
Ana Luísa Amaral
Apetecia-me, apetecia-me ir de fim de semana com um poema da Ana Luísa Amaral.
Agora sim, posso ir descansada! Já está!
Agora sim, posso ir descansada! Já está!
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