Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
Este ano tenho estado a viver a entrada na época natalícia de uma forma muito pacífica... Talvez seja por ter pouco tempo para caminhar pelas ruas iluminadas e ficar transtornada com os gastos exorbitantes, com tanta gente a morrer de fome e com a imperiosa necessidade de poupança energética mundial, esbanjam-se milhares de watts por noite para satisfazer os caprichos de alguns, numa tentativa de imitação norte americana da ilusão do sentimento do Santo Natal.
Talvez seja por ter pouco tempo para passear pelos templos do consumismo exacerbado.
Talvez seja por começar a tentar ver o lado humano do Natal, que também existe... embora se encontre totalmente ofuscado pela corrida às compras, ditada por um mercado selvagem e persecutório dos que simplesmente: não conseguem desligar da pura hipocrisia e injustiça social que é o Natal e passavam bem sem ele! Como eu!
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