domingo, abril 22, 2007

Silêncios

"O silêncio tem diferentes apresentações, modalidades e motivações. O silêncio acontece porque não há nada para dizer ou, no limite, porque há um excesso de coisas para dizer que se empurram e se auto-anulam no momento da enunciação. O silêncio pode ser brutalmente ruidoso, pode furar os tímpanos nesse excesso de vazio.

O silêncio pode, por isso mesmo, ser o momento imediatamente anterior à produção de um grito. Pode ser um grito suspenso que, pelo facto de o ser se transforma num processo violento de auto – punição, semelhante àquele que acontece quando guardamos na boca toda a raiva que nos vai na alma. Um silêncio pode assim valer mais que mil palavras. Pode dizer tudo aquilo que todos os gritos conseguem. Que todos os enunciados escamoteiam.

Há no silêncio um sentido, uma intensidade de comunicação que só se revela quando ele se instala no meio do mundo e funciona como fundo-forma desse mundo. Quando o silêncio irrompe, é o som que faz de fundo. A música, as palavras, a comunicação podem ser entendidas como o negativo de uma colecção de silêncios, de não-ditos que se alinham ao longo do tempo. (...)"
Paulo Cunha e Silva, Maio de 2000 ,
acerca do trabalho de Graça Sarsfield

2 comentários:

flip disse...

muito bem

Stormy Mind disse...

Espectacular, este comentário de Paulo Cunha e Silva! A força do silêncio, o que ele engloba, o que pode significar.

Continua a escrever, pois há quem acompanhe este blog. :)