quarta-feira, janeiro 18, 2006

Hoje deitei-me ao lado da minha solidao

















Hoje deitei-me ao lado da minha solidao
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coraçao.

Moreno, era fome das pedras e das luas,
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia

Hoje deitei-me ao lado da minha solidao
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até sentir
o meu sangue jorrar nas próprias fontes.



Eugénio de Andrade

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